quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Violência Institiva

Perguntamos à algumas pessoas sobre o assunto. Um deles é TIAGO MOTA E SILVA, estudante de jornalismo da Cásper Libero.

"Foi uma cena curiosa. Era já fim de tarde, todos os corpos cansados pareciam encontrar forças no inexplorável de seus músculos para ficar ali de pé esperando pelo o próximo ônibus. Imaginem só o sol quente e sem piedade fazendo questão de queimar as nucas dos ali presentes e nada do ônibus chegar. Um senhor de seus 70 anos, olhar baixo e mãos ossudas ocupava o privilegiado terceiro lugar da imensa fila que havia se formado. Dez, vinte, trinta minutos e nada do ônibus passar. Quarenta, cinqüenta, uma hora! Depois de uma hora de espera a condução se aproxima. Finalmente!
Avistei vindo do outro lado da rua outro senhor, também dos seus 70 anos. Este, porém, já era mais gordinho, de barba mal feita e olhos irritados. Sem se preocupar com a fila, entrou no veículo assim que este parou – afinal, não é este o seu direito de idoso? Para quê... No mesmo instante o outro velhinho que transmitia uma sensação de paciência por meio de seus cabelos brancos esbravejou palavras de condenação, mal dizendo o companheiro de idade. Nossa! Não é que o outro respondeu, desceu do ônibus e, apontando o gordo dedo indicador no nariz de seu semelhante, dizia palavras tão sujas enquanto cuspia ao pronunciá-las? Nossa! Nossa! Ninguém sabia o que fazer! Briga de velhos agora? Por causa de fila de ônibus? Os dois não tinham lugar garantido graças à lei que garante tal direito? Algum deles ia pagar pela condução? Trocaram uns socos, mas logo pararam devido a fadiga. No fim, o ônibus partiu e todos ao redor riram desta situação um tanto incomum.



Violência. Sem sentido, sem razão ou por puro impulso, a agressão vem de graça nos dias de hoje e nem sempre os casos acabaram em risadas como com os nossos bons velhinhos. Há algo no ser humano que excede os limites do aceitável e se traduz em práticas abomináveis e indigeríveis tais qual a violência doméstica, violência no trânsito ou até mesmo na fila de ônibus entre idosos.
Devemos notar que existe uma demanda por violência, ou seja, o ser humano procura consumi-la para satisfazer suas pulsões agressivas. Vide a imprensa, sensacionalista ou não, que imprime crimes sangrentos em suas páginas, ou ainda games que dão armas e plena liberdade para matar. A questão, porém, não está no modus operanti, mas no desejo ou na necessidade de praticar determinada agressão. Ou seja, o jornal sensacionalista, por exemplo, não incita ou ensina a criminalidade ou a violência, apenas atende um desejo de seu público.
O filósofo Yves Michaud, dividiu os tipos de violência em dois, sendo um animal e outro humano. No primeiro, ela é apenas natural, imediata e sem interditos, enquanto na segunda ela se refina e se complica. No caso humano, a violência transgride em inventividade, é furiosa e cheia de excessos. Nós também temos um instinto de sobrevivência que leva isso, uma Eros, mas este é desajustado. Nas palavras do filósofo, “a cultura veio completar os instintos, mas contribuía para lhe tornar inúteis e, finalmente, perigosos.”
Dentro deste mesmo assunto, o zoólogo austríaco Konrad Lorenz fez um trabalho comparativo entre animais e seres humanos e formulou o conceito da “função hidráulica” da violência. Para ele, a explosão agressiva ocorre justamente para equilibrar um organismo após o acúmulo de tensão.
Ainda citando os velhinhos no ponto de ônibus, a briga seria um resultado de toda a tensão que aquela situação gerava (sol quente, fila enorme, longa espera e tudo mais).
Não somos seres racionais? Podemos muito bem ajustar os nossos instintos, de modo que a violência deixe seu viés de fúria. Da mesma forma, existem outros meios que podem exercer a “função hidráulica” descrita por Lorenz, como a arte, a terapia ocupacional, formas de entretenimento e tantas coisas mais. A nossa cultura ao mesmo tempo em que torna o instinto perigoso, também produz formas mentalmente ou fisicamente saudáveis de equilibrar nosso organismo. Mesmo a pulsão de agressão sendo autônoma, é possível evitar situações em que esta se agrave e exploda.
Cabe aos órgãos públicos implantar planos que subvertam situações sociais causadoras de criminalidade e violência, mas também cabe a cada cidadão levar a moralidade até a sua prática evitando estes tipos de transgressões. Bom-senso, sabedoria, maturidade, diplomacia e cidadania são ferramentas valiosas.
Quanto aos velhinhos, não sei quanto mais tempo eles vão durar brigando deste jeito."


Podemos até tirar soluções do texto. O que acham?

Um comentário:

  1. Puxa vida Tiagão, tá de parabéns pela belissíma dissertação!

    Continue sempre assim!

    abraços
    DTA

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